terça-feira, 27 de julho de 2010

noite

o calor, libertino
na febre dos dedos
tenho o prazer e liberto
embevecido da tua saliva
em meus olhos
tenho o rastilho
do teu pescoço
inebriante – feito açúcar
granulante em minha língua
absorvida
eu rego os teus seios
e perco, sempre,
a direção do teu ventre umedecido
pela nervura dos lábios
no tempo que seja
enquanto tempo não vivido
ser teu corpo
– eu me esqueço
que sou –
e desatino

insólito

procurei em tuas pernas
a matéria da poesia;
do que poderia ser feito o músculo
que pulsa qual um coração
quando meus dentes o arranham
dos pêlos eriçados
qual um cacto do sertão
quando minha língua
os absorve
do que seria feita a pele
se do branco
fosse rubro
ao sabor do que lhe chega ao ouvido
das veias aflorando sangue
igual ao vulcão expelindo calor
sob o peso das mãos
é a medida do verso
a matéria das pernas;
feito um inseto
iluminando a noite
eu, bicho-homem
devassei teu campo de flores

quarta-feira, 21 de julho de 2010

indefinições



o amor é rotação
universo das tardes
é ânsia sem contorno
sentimento que atravessa
- horizonte devorado,
o amor é infantil
objeto do silêncio
ouve-se
pelos ângulos da luz
é vôo indolente
floresce onde menos se espera
na seiva do céu
na urdidura do sono
a atmosfera cresce
caudalosa
gerando o fruto
influxo da razão
vapor
inalado – fecunda o riso
os dias bravios
só resta entender
a projeção do mar
nessa carência que é negação
nessa fogueira cotidiana
morremos
abrasados de não-amor
sejamos areia
que se entrega
esse gozo lunar
que é único
raro e eterno

terça-feira, 20 de julho de 2010

Eros

o equilíbrio
distante
no silêncio
quase o toco
com mãos de Baco
e fogo retínico de Apolo
distante
um negrume em meu deserto
floresce
e na moldura dos dias
esvai-se
lento
dizer adeus – é abortar
o mundo das entranhas
os seios
frêmitos
implodem libélulas
no turbilhão que é lírico
no perfume


que em ti
é ilusão
e desejo
da alma que é frágil
e é luz no espelho
um rio
distante
deságua em mim
onomatopéias do que é cheio
e vazio
convém te amar
nessa clareza rouca
nesse canto radioso
que murmura e transcende
é renúncia
e condição
da minha procura

a dissolução do sujeito




tempo
efêmero das horas
na busca dos rastros
eu te arrasto ao mar
tempo – deus vida – intransigente
eu te mastigo e vento
nas velas e nos versos
o ancoradouro e as pedras
horizonte dissolvido em tempo
ouro, grãos de sol
do nascente ao pôr
tempo
homem – sombra do vir-a-ser
eu te desenho os membros
dos corpos expostos
harmonias em dissonância
flor da paixão e da morte
eu te guio e me esqueço
animal desprovido de tempo