a vida é um sopro
que escorre entre os dedos
é um lírio
que ascende
envelhece
e some
sem deixar rastro
embora o seu odor
se conheça –
a vida o amor
também é um sopro
embora eterno
é tão-somente deserto
intranqüilo
na sua razão
no seu toque
trêmulo que a todos chega
o sonho que é fuga
na solidão a que estamos condenados
lembrar
do que era deleite
vivo
até que nós mesmo
sejamos sonho
no encanto de uma lápide
nas linhas de um livro
num banco
inscrito na areia
essa substância
que nos preenche de nada
e que ao mesmo tempo
é o espelho dos desejos
das nossas tristezas
do nosso sopro
que seja eterno esse vento
essa brisa lunar
que é humana
e que cessa
como a chama
do sol queimando nossos corações
do amor que é lírio
ressoai as trombetas do inferno
no instante do céu
um pulsar
nos olhos que se fecham
enquanto outro lírio nasce
e outros lábios descubram
do que é feito a cor
a vida – esse mistério de peles
que atraem-se
esse encanto de corpos delineados
esse reluzir à meia-noite
en el vientre de las flores